As radiografias são perigosas durante a gravidez?
Toda a gente acha estranho que se peçam radiografias a grávidas, porque toda a gente sabe que as radiações estão contra-indicadas na gravidez. Já muito pouca gente sabe que essas contras-indicações não são absolutas (nalgumas circunstâncias as vantagens obtidas com a realização do exame radiográfico podem ser superiores aos seus riscos). E ainda menos gente sabe o porquê das contra-indicações, apesar de pensarem que sabem.
O que são radiações?
As radiações são o transporte de energia através do espaço. As radiações, que podem ser particuladas ou electromagnéticas, têm realmente efeitos biológicos. Estes efeitos são dependentes da dose de radiação recebida ao longo do tempo, pois os efeitos das radiações são cumulativos.
Quais os efeitos das radiações?
Existem dois tipos de efeitos das radiações, ambos dependentes das doses:
1. Efeitos a nível do genoma (a nível dos genes) que podem traduzir-se na possibilidade de cancro (se os efeitos se verificarem a nível das células do corpo) ou na possibilidade de se causarem alterações genéticas com consequências possíveis, mas improváveis, em futuros descendentes (se os efeitos se verificarem a nível das células reprodutoras do indivíduo). Este tipo de efeito é medido pela probabilidade da sua ocorrência numa dada população. Isto é, quanto maior a dose de radiação, maior será a percentagem de indivíduos de uma dada população que poderá vir a ter um cancro.
2. Efeitos a nível celular (morte ou destruição das células) que podem traduzir-se, em termos do feto, em aborto, atraso mental, microcefalia (cérebro pequeno), malformações e/ou restrição do crescimento, dependendo do tempo de gravidez. Este tipo de efeito mede-se pela gravidade dos resultados. Isto é, quanto maior a dose de radiação, mais grave será o efeito no indivíduo. Para o primeiro tipo de efeitos a dose de radiação necessária para o produzir é muito menor do que para o segundo tipo de efeitos.
E então os exames radiográficos?
A quantidade de radiação de praticamente todos os tipos de exames radiológicos é sempre muito inferior à quantidade de radiação necessária para que o segundo tipo de efeitos (malformações, atraso mental) se possa verificar. No entanto, para o primeiro tipo de efeitos (cancro), a dose de radiação dos exames radiológicos já pode ser suficiente para aumentar ligeiramente o risco de cancro. E é só por causa desse tipo de efeitos que é recomendado algum cuidado na realização de exames radiológicos, e não só durante a gravidez. Não se deve abusar de exames radiográficos e os técnicos que os executam devem proteger-se. No entanto, essa recomendação tem objectivos de saúde pública e não se aplica à decisão individual de efectuar, ou não, um exame radiográfico numa grávida. Se as vantagens desse exame forem importantes, pode ser aceitável o pequeno risco atribuível à dose de radiação a que o feto será exposto pelo exame. Da mesma forma se raciocina quando se pede um exame radiológico a uma pessoa que não está grávida. Também nestes casos existem riscos para a pessoa que vai ser radiografada. Mas se os benefícios resultantes da informação obtida com o exame forem importantes, aceitam-se os riscos.
* Médico Serviço de Obstetrícia do Hospital Garcia de Orta